segunda-feira, 16 de maio de 2011

ADORMECER NO MUNDO!



                                                             — ao P. Carlos Galamba




Repentinamente
vestiu-se escura a primavera e
tão nebulosas – como a chuva que chegou a esta Hora
para lavar o jardim e humedecer-me os olhos –
as coisas que ungem a Vida adormecida no chão daqui.

E porque eu e Ela unidos nos firmamos
sei-me testemunha dessa existência
que consuma ser a memória mais álgida que a penumbra
estendida nesta Capela
com seu embalar profundo e empreendedor
que me estremece Teu Ser.
(Se deste lado alguma lágrima transpira
– diante da sala e por ela exilada! –
é porque foi dado ao que Existe
o que não haverá de ser fronteira ao Unificado!)

Além da retina a Casa é grande
e quão forte me soa – ermo desta noite – solidão!
O vasto agreste constrói na parede
a saudade e a despedida do que resta ser à vista…
e será amortalhado ao destroço de um passado
fechado nas pálpebras do Silêncio que Te embala!

Profuso foi olhar-te Templo adormecido
e meu peito que esperava o esplendor de astros
abriu mão a um adeus singelo e nobre
com a possível mansidão do que é transeunte.
A Luz aproximando Tempo e Lugar
o aroma das flores e o embalo do fogo na luminária –
permeio do eterno que Te amanhece
com a precisa formosura de Quem assentou mármore.

Agora que a primavera singrou no ciclo
cada pulsar da juventude que foi – olho o Mundo
e a nebulosa em que se enrugou a memória –
o que se apagou não existe mais
aos olhos adormecidos
nem o óleo quente escorrendo pelas paredes
reflectirá a unção sagrada à Vida
nem o sangue da árvore ou o calar da ferida
dará outro sentido à Estação aqui prostrada
nem a lágrima que me lava
– oh, véu transparente! –
acrescentará peso à delicadeza e à saudade…

E que sombra alguma jamais separe
o Homem e o Céu!

©JFernandes – 11.Mai.2011 — in Jornal O GAIATO, n.° 1754, p 3.