quarta-feira, 10 de novembro de 2010

domingo, 10 de outubro de 2010


Vamos comparecer. Eu vou estar lá para dar um abraço.


 

sábado, 9 de outubro de 2010


E lá estarei com um abraço para vos receber.



domingo, 19 de setembro de 2010



1.

chegaste com as folhas de outubro
adormecida nas mesmas cores

ficaste como quem espera
a vinda de maio

sombram-te fantasias    sonhos
adormecem [como tu] as cores
que outubro tinha nas folhas
quando chegaste




2.

em azul
roda o pensamento da gaivinha
olha a rocha

tombada na areia
a água
quebra no verso

sonhas-te viajante em mar
desconhecido
primeira ouvinte do roçagar
da seda    que te incha?

um vento de mármore
na constelação da barca
suprime as palavras

borbulha silêncios




3.

a praia é o album de recordações
por onde vemos
impressos
os primeiros passos das mãos




4.

o que deixámos
não jaz
apenas muda de olhar

talvez haja outra frequência
nas ondas
outro estalar nos rios

nas velas e nas asas
a sombra se mova mais por dentro

o que deixámos
é o de sempre
mesmo quando o olhar apaga

a silhueta que fica




5.

é sobre o corpo que o telhado cresce
afagam-me a língua
folhas por escrever

é teu o segredo da palavra
e o eco
do verbo
pousado no colo

apenas o espelho não ouve
a face esperada




6.

penetrando a linha
os pés pousaram na areia
com solas de agosto

esperámos junto ao mar
a chegada do tempo

aves em migração
voámos outubro inteiro




7.

foi depois: a casa abriu
janelas e braços
à neve de janeiro
[que nos veio cumprimentar esse ano]

foi quando abrimos o álbum
para ver se as peugadas eram iguais
às que a areia guardou

enrolado no outono




8.

arrumámos a poesia
no lugar que convinha aos versos

a sala encheu-se de névoa

eram letras que bailavam
um lento significado de espera
pelos rios que ainda corriam
caudalosos
protectores
delindo um eclipse de tempo
sem retorno




9.

voltámos à praia
ao primeiro chamar
da andorinha-do-mar

deixámos os beirais
a descoberto
e a incerteza dos dedos pousada
no lugar da voz

por mim    podia dizer que
amo o silêncio
com que me chamas

a escrever na areia




10.

para ti    podia recortar
todas as manhãs
existentes nas mãos

pendurar a imagem
            [espelho que fosse]
no desejo de pólen
que te acolchoa o infantário

traçar
na gruta do domicílio
o nome




11.

a ti    ave pousada na cepa    entrego
a colheita de outono

toma das uvas o mel e o delírio
que sobre as palavras
estará a ser o que se move

tua é a guarda da voz e do silêncio
que um espasmo em força pode
desequilibrar a qualquer instante

mas será sempre nossa a viagem
ao interior daquela
luz – rasgadas as paredes da sombra –
que pendura no espelho que convém
a imagem




12.

no ciclo da lua
sobem e descem marés
às areias

distante
o outono observa o rito
das árvores

tão antigo como abril




EPÍLOGO

pouso nos dedos a idade de te ter
junto ao acordar

sonho maio a abrir uma flor
em silêncio espero da mão a face
quando o outono colher
a idade de me ter junto ao sono

©FERNANDES Júlio A. B. – EPILEPSIA DAS HORAS - II — 2010.