segunda-feira, 7 de março de 2011

A Luz da Pedra


imagem

pela preposição, poderia dizer d’ele… ou com ele –
que o remédio dos homens faz-se também de princípio
(ou é dele ou com ele). pela rebeldia dos olhos,
poderia dizer que é com e, assim, estabelecer uma linha
de seiva que, subindo pelos troncos, alimentaria a árvore toda
(fosse meu corpo madeira a dançar ao vento
ou uma ave planando sobre a superfície do mar;
fosse meu ser mais que caravela dobrando cabos –
de tormentas ou boas-esperanças – e eu diria mais…
preposições… advérbios: modos e lugares: circunstâncias).


mas não. o poema não é isso. não deve ser isso.
o poema é a água que caiu na raiz da pedra e só pode ser lágrima
que acompanha a primeira queda dos registos rupestres.


pela preposição, poderia dizer da outra argola que entala a boca –
ou ele ou dele todos os cabos da escrita selvagem.
com ela e por ela, poderia afirmar coisas que os olhos não narram.
contar os cravos das mãos por cada estrela apontada…


e fazer pérola cada aljôfar de água
com que os antepassados pintaram… — a luz da pedra.


©Júlio Fernandes - Fev. 2011

quinta-feira, 3 de março de 2011

O VENTO DO POEMA…

O VENTO DO POEMA…
— QUE PARTE?!

a: Anderson Santos, pela Obra [o imortal]

cada ritmo da linguagem é um caminho sem retorno.

tenho o sangue puro de quem olha os dentes
na encruzilhada da via ao escurecer

tenho pedaços de sabor a sair pela abertura da boca.

cada passo é apenas um passo que se faz a pouco-e-pouco
como frases que se sucedem para um fim já encontrado
– eterno –
como esse corpo nu sobre a estaca que mata o silêncio
da voz.

tenho marcado o Z do alfabeto nos dedos que me queimam e,
na língua,
a ferro e fogo,
o ritmo da linguagem do caminho sem retorno
onde o sangue entorna os dentes escuros do nu.

©JFernandes, Mar.02.2011

na esteira de A WHITER SHADE OF PALE - Sarah Brigtman