RODOPIOS
10.
Quando o sol acaricia o corpo
a sombra é mais nítida
e os olhos não param na alfândega,
tudo é rápido nesse país
de porta escancarada ao sonho.
Talvez me venha a lembrar um dia
com suor e assombração
de alguns desses sonhos que ficaram
no outro lado da fronteira, ou não!…
A que saberão os frutos fora de tempo?!
11.
No dia em que tudo mudar, secaram os solos do corpo
e os lençóis dos pequenos ribeiros
deixaram de desaguar no rio
e o estuário do coração apodreceu
e os vermes sugarão o que restar das águas sem sal
(Serão os horários do dia e sem mel os da aurora!).
No nocturno espreitar,
limpar-se-ão lágrimas
conhecidas pelo silêncio
coberto por nuvem de poeira.
Não adianta limpar.
Mas se algo for pisado para esconjurar o tempo,
que seja no amanhar do campo que foi de letras
em redor do que passou vivo
e se deitou para além do efémero.
Dizem que o nome é a pessoa toda —
talvez somente o que reste
a fazer lembrar e ser em memória.
Se calhar até é bom baixar os pés à poeira dos campos;
e subir, tirando as sandálias, para nos levarmos um ao outro
pelo caminho que leva ao carinho paterno-materno onde
ficará guardada a memória do nome.
FERNANDES, Júlio A. B. – Maio 2009.
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