terça-feira, 5 de maio de 2009

RODOPIOS



10.


Quando o sol acaricia o corpo

a sombra é mais nítida

e os olhos não param na alfândega,

tudo é rápido nesse país

de porta escancarada ao sonho.


Talvez me venha a lembrar um dia

com suor e assombração

de alguns desses sonhos que ficaram

no outro lado da fronteira, ou não!…


A que saberão os frutos fora de tempo?!



11.


No dia em que tudo mudar, secaram os solos do corpo

e os lençóis dos pequenos ribeiros

deixaram de desaguar no rio

e o estuário do coração apodreceu

e os vermes sugarão o que restar das águas sem sal


(Serão os horários do dia e sem mel os da aurora!).


No nocturno espreitar,

limpar-se-ão lágrimas

conhecidas pelo silêncio

coberto por nuvem de poeira.


Não adianta limpar.

Mas se algo for pisado para esconjurar o tempo,

que seja no amanhar do campo que foi de letras

em redor do que passou vivo

e se deitou para além do efémero.


Dizem que o nome é a pessoa toda —

talvez somente o que reste

a fazer lembrar e ser em memória.


Se calhar até é bom baixar os pés à poeira dos campos;

e subir, tirando as sandálias, para nos levarmos um ao outro

pelo caminho que leva ao carinho paterno-materno onde

ficará guardada a memória do nome.


FERNANDES, Júlio A. B. – Maio 2009.

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