RODOPIOS
4.
Jogo contigo o virtual jogo das cores
silenciosas
como a respiração amazónica
estendida.
E a sombra é um golfinho
mergulhando
no som da letra de ar rarefeito
tão alto se encontra
tão leve movimenta
energia
suportada no interruptor
junto à porta.
Contigo atrevo-me ao jogo
das flores enigmáticas
boiando em lagos artificiais.
Pedúnculo e voz
livres
para além das mãos.
5.
Que resta depois da voz
ferir o silêncio
e no vento curando-se
que cicatrizes
lhe marcam o corpo?
Que nome tem este reflexo
de céu e a que flor
tirou a brancura que o encabela?
Quantos sentidos guarda
cada bolha
que lhe emerge do corpo
e, em cada mergulho
quantos beijos esconde da cor?!
6.
Era lá, na garganta da montanha
onde os de Cister ergueram o moinho
eram horas de galo abanando o dia
naquele quarto pequenino
decorado com objectos de criança…
Tão longe ficaram
o saco dos berlindes
e os piões mai-los baraços…
Não fosse a memória entornar
e ficariam sombra
(ah, como os dedos atrapalham
estas cores)
Quanto carinho são capazes
as fráguas de transportar
ao colo do húmus encarnado
num corpo?
Disse que sim e fomos,
que os elos da alma não se cortam
com tesouras de podar
momentos…
Na intimidade
emergem
segredos
alegres sentimentos
com rochas em pano de fundo
e fica-se sem palavras
quando os botões
onde as mãos tocam
surpreendentemente
nunca chegam a ser flores!
FERNANDES, Júlio A. B. – Maio 2009.
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